Num estudo a ser publicado na revista Nature (Shima et al. ), um grupo de cientistas japoneses deram um importante passo em direção ao estabelecimento das bases neurofisiológicas da “Inteligência”. Embora o conceito de “inteligência” e comportamento “inteligente” represente uma confluência de inúmeros e variados processos e capacidades, implementados com a participação de distintos sistemas neurais, investigações realizadas nas últimas décadas lograram isolar certos componentes desta classe de comportamento e sugerir mecanismos neurais específicos responsáveis pela sua expressão externa.
Com efeito, Freedman e colegas (2001) haviam demonstrado que a atividade de neurônios localizados no córtex pré-frontal era essencial na categorização visual de objetos. No estudo que estamos discutindo, Shima e colaboradores mostraram que o córtex pré-frontal está também envolvido na categorização de planejamento da ação
Nos experimentos realizados por estes cientistas, macacos rhesus eram ensinados seqüências coordenadas de movimentos que, em virtude do padrão de execução destes últimos, poderiam ser classificadas em três categorias. A mais simples delas, caracterizava-se pela execução repetida dos mesmos movimentos por quatro vezes, isto é, AAAA. As outras duas categorias envolviam a execução variada dos movimentos, isto é, movimentos alternados, ABAB, ou pareados, AABB. Cada instância de execução das categorias de seqüências diferenciava-se com respeito aos movimentos específicos – puxar, empurrar ou virar – que eram requeridos, contudo, compartilhavam a mesma estrutura seqüencial, isto é, movimentos similares (AAAA) ou diferentes (ABAB, AABB).
Durante o intervalo de tempo entre as execuções os cientistas descobriram que a atividades de neurônios individuais refletiam a categoria da seqüência de movimentos que o indivíduo tinha a “intenção” de realizar, não importando os tipos de movimentos específicos nela contidos. Assim, alguns neurônios eram ativados antes de uma determinada categoria de seqüência de movimentos, por exemplo, ABAB, e isto acontecia independentemente dos dois tipos específicos de movimentos – puxar, empurrar – requeridos. O trabalho nos permite concluir, portanto, que a atividade neural registrada não diferenciava entre movimentos específicos, mas, de fato, estava codificando a estrutura abstrata da seqüência, sem importar a ordem serial ou de seus movimentos componentes.
Estas descobertas acrescentam novos e importantes ingredientes à nossa compreensão acerca dos mecanismos pelos quais o cérebro controla aquela classe de comportamentos que denominamos de “inteligentes”.