Num editorial publicado no último número da revista médica The Lancet, (Vol. 369, March 17, 2007), é feito referência a um artigo de pesquisa epidemiológica publicado em Health Affairs, acerca da patologia do TDAH. Este último estudo mostrou que o uso global de medicamentos – incluindo aí as drogas não-estimulantes – prescritos em casos de TDAH em crianças e jovens entre 5 e 19 anos, multiplicou-se por três no intervalo entre oa anos de 1993 e 2003. Em 1993, 31 países membros da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento haviam adotado o uso de medicações para o tratamento de TDAH, enquanto que em 2003 este número havia subido para 55.
Algumas nações, entre elas a Suécia, Itália e Japão, apresentaram uso de medicamentos desta classe abaixo do que seria previsto em termos do PIB, por outro lado, os Estados Unidos, o Canadá e a Austrália, mostravam um número de utilizações acima daquele que seria previsto em temos do mesmo índice. Esta discrepância em volume de prescrições já é, por si só, preocupante, uma vez que pode estar relacionada a fatores como propaganda mais sistemática e agressiva em países como os Estados Unidos, a carência de critérios diagnósticos uniformes e internacionais para a patologia, e variações nos sistemas públicos de saúde. Estas razões parecem indicar que a prescrição de medicamentos para o TDAH tem obedecido a critérios imediatistas, antes que a critérios médicos fisiopatológicos.
Além disto, o incremento no uso de medicamentos para o TDAH desperta o receio de que poderia estar havendo identificação exagerada da moléstia, tratando como casos de TDAH indivíduos que, de fato, não apresentam a patologia. As drogas estimulantes – que consistem na primeira escolha de tratamento em casos de TDAH severos – causam efeitos colaterais, possuem efeito aditivo e podem levar a abusos de medicação. Mas, no outro extremo, como afirmam os editores de The Lancet, um problema tão sério quanto a superestimação da doença é aquele que está acontecendo em alguns países (mencionados acima) nos quais os casos efetivamente diagnosticados e tratados pelos clínicos permanecem muito abaixo da prevalência populacional.
As diretivas avançadas pelos editores do Lancet, e que me parecem extremamente ponderadas e razoáveis, pedem por um maior cuidado na avaliação dos casos suspeitos e que o diagnóstico deveria caber apenas ao especialista. Que os tratamentos comportamentais, entre eles o Neurofeedback, deveriam ser empregados mais amplamente, como terapêutica principal em casos menos severos e como complemento à abordagem farmacológica nos casos mais severos. Finalmente, identificar os fatores culturais e econômicos que produziram este estranho desequilíbrio entre diferentes nações, em algumas sendo o número de diagnósticos de TDAH exagerado, enquanto em outras a mesma moléstia é subestimada.